23/6/1970 - Seleção tricampeã chega ao Brasil para fazer festa com 90 milhões em ação

Quando o avião da Varig pousou em Brasília, a multidão no aeroporto invadiu a pista para cercar o Boeing. O grito era de "Brasil!". Seguido por "Pelé".

O primeiro a aparecer na porta da aeronave foi o treinador tricampeão mundial Zagallo. Duas vezes campeão como ponta-esquerda, em 1958 e 1962. Agora como técnico da Seleção no México.

O capitão Carlos Alberto apareceu em seguida, ainda mais aplaudido por trazer nas mãos a Jules Rimet, conquistada em definitivo no domingo, dois dias antes da chegada do Brasil de volta ao país. "Fomos a primeira Seleção a chegar ao México e fomos a última a partir, como eu havia previsto", falou o treinador.

O governador do Distrito Federal foi o primeiro a abraçar todo mundo. Hélio Prates da Silveira fez mais festa com Pelé.

Três carros de bombeiros levaram a comitiva pelas largas avenidas de Brasília. No caminhão da frente, com escada Magirus, Carlos Alberto segurava o caneco ao lado de Zagallo e do supervisor da Seleção, o capitão do Exército Cláudio Coutinho (futuro treinador da Seleção em 1978, na Argentina.)

Quando chegaram ao Palácio do Planalto para o almoço, ainda na rampa, o ditador disse em lágrimas que "Pelé é o verdadeiro Rei". Depois todos almoçaram no Palácio da Alvorada, onde os atletas receberam um cheque de premiação.

No Rio, no longo corso do Galeão até Copacabana, a canção mais tocada foi "Pra Frente, Brasil" . Mas também teve espaço para a divulgação da maravilhosa "Sou Tricampeão", composição dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle, na intepretação dos Golden Boys. No Galeão, na longa espera desde terça-feira cedo até o pouso 18h45 (era previsto para 16h), quatro chacretes (dançarinas do programa do Chacrinha, na TV Globo) estavam distribuindo LPs da composição tão bonita e emocionante quanto "Pra Frente, Brasil".

O Rei Momo também apareceu no Galeão, mas não teve facilidades entre milhares de pessoas que ocuparam o estacionamento do aeroporto. Dois ônibus saíram da Rua da Alfândega, sede da CBD, no centro do Rio, levando familiares e amigos dos tricampeões. A maior "família" era a de Marco Antonio. Eles ficaram esperando no restuarante do Galeão o Boeing desde 15h.

Para muita gente, o Rei Pelé era o mais animado pelas ruas. "Foi um Rio que Passou em Minha Vida", de Paulinho da Viola, foi outro tema musical muito cantado no Carnaval carioca de junho de 1970. Portela e Mangueira fizeram mais música e barulho do que a banda da Polícia Militar, no Rio.

As bandeirinhas do Brasil eram vendidas por camelôs a um cruzeiro novo. Muita gente comprou pelas ruas.

Os mais de 150 funcionários do Plaza Copacabana destacados para cuidar dos tricampeões tiveram trabalho o dia inteiro. Mas só receberam parte do grupo quando acabou o cortejo, por volta de 22h daquela terça. Nem todos pernoitaram no hotel. Zagallo foi para casa no começo da madrugada. Marco Antonio também.

Rivellino confirmou casamento para o dia 30 de junho, e que deixou o bigode crescer a pedido da noiva. Gérson reiterou que largaria futebol em 1973 para virar comentarista. Edu não via a hora de voltar a Jaú e disse que sofreu muito não jogando a Copa como titular como havia sido nas Eliminatórias.

Zé Maria disse que a Copa era presente do grupo de atetas para o povo brasileiro, e que o ambiente do elenco no México foi "sensacional". Edu também abriu alguns apelidos: Rivellino era Orelha; Fontana, o Capitão Pose; Gérson era o Papagaio; Pelé era Mamãe Dolores; Brito era o Pezão; Zé Maria era o Boca Larga. "Joel não posso contar porque a censura corta...".

Pelé foi o primeiro a entrar no hotel, cercado por quatro seguranças. Ado foi o mais assediado pelas torcedoras.

O hotel ficou lotado. Muita gente pagou 115 cruzeiros novos a diária para passar a noite próximo dos tricampeões.