A hipocrisia nossa de cada dia

A cena é linda e exemplar. Em um torneio de futsal em Portugal, Sporting e Benfica se enfrentam. Em um ataque do Sporting, a finalização explode no rosto do marcador. O árbitro, de impulso marca pênalti. Jogadores do Benfica questionam - e um deles chora. Até que o adversário avisa que de fato não houve infração e confirma que o defensor tirou com o rosto o lance de perigo. O juiz volta atrás, desfaz o erro e premia o pequeno com um cartão branco (sinalizando jogo limpo).

O vídeo foi compartilhado nas redes sociais pelo nosso repórter Arthur Quezada, que mora em Portugal. A reação quase unânime de quem assistiu foi elogiar e questionar como não vemos isso se repetir constantemente entre os marmanjos.

E aqui entra o sentido deste texto.

Tudo parece ideal quando é visto à distância. Na prática, muitos daqueles que elogiaram o jogador do Sporting reclamam e rotulam quando atletas dos seus times fazem o mesmo.

Gestos de Fair Play nos profissionais, não raro, são vistos como exemplos negativos de um futebol que tem perdido a essência e virado um jogo de 'mi-mi-mi' ou cheio de atletas 'nutella'. Basta ver o linchamento sofrido por Rodrigo Caio quando ainda atuava no São Paulo.

Resumindo: é óbvio que o garoto do Sporting está certo. Futebol não é um mundo à parte onde levar vantagem sempre é o que importa. E é de criança que você é estimulado a fazer o certo - por isso existe o cartão branco, por exemplo, em categorias inferiores.

Árbitros e treinadores são também professores nesse processo de educação e socialização.

O torcedor também acaba cumprindo um papel. E quando aplaude o jeitinho, quando reclama do Fair Play que seu time faz ou quando relativiza erro de arbitragem a seu favor, essa parte do futebol está jogando contra aquilo que supostamente diz cobrar - e aplaudir quando aparece na timeline.