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A pressa para voltar com o futebol no Brasil...

É um fato que o isolamento social trará uma crise para o país e também para o futebol. Mas voltar com o futebol da forma açodada como está sendo feito por aqui denota uma crise moral

A curva de casos e de mortes no Brasil cresce dia a dia
A curva de casos e de mortes no Brasil cresce dia a dia (Ministério da Saúde)

Por Vitor Sérgio Rodrigues

A tentativa inicial era voltar o Campeonato Alemão no dia 9 de maio. Passou para o dia 16. A agora não retornará antes do dia 23. Certeza, não há. Na Espanha, o Conselho Superior de Esportes publicou neste sábado um cronograma para começarem os treinos, com uma série de restrições para, quem sabe, daqui a pelo menos um mês os jogos poderem ser realizados. Os donos dos clubes e a direção da Premier League fizeram uma conferência em que a maior afirmação foi: a prioridade é a vida de todos! E saíram do encontro comemorando a criação de um grupo de trabalho governamental para estudar a volta do esporte de alto rendimento. Na França e na Holanda o futebol profissional está proibido até 1º de setembro.

Repararam que nos cinco casos citados há um cuidado grande com o retorno dos jogos de futebol? E nos cinco países a percepção é que o pico do contágio (e consequentemente das mortes) do Coronavírus já passou ou está passando, com número de novos casos diminuindo, fruto de rigorosas políticas tomadas nesses países. Neste sábado, na Espanha, o governo autorizou que as pessoas saiam à rua para fazer exercício físico das 6h às 10h e das 20h às 23h, por exemplo. E mesmo assim, o retorno do futebol é algo tratado com muita cautela.

Por que vidas estão em jogo. Os governos sabem (ou deveriam saber) que não podem (ou não deveriam) brincar com a vida das pessoas. E retomar uma atividade como o futebol, que não é essencial, é um risco real pelo número de pessoas envolvidas e também pela mensagem que isso vai passar a todos: se pôde voltar o futebol, é porque a situação está sob controle. Não está.

Corta para o cenário brasileiro. Os órgãos governamentais estão, há mais de um mês, projetando o pico do contágio para daqui a duas semanas. Os números de novos casos e de mortes sobem diariamente, como percebe-se no gráfico do Ministério da Saúde. E os especialistas garantem que os números são maiores, pois há uma subnotificação, natural num país em que não se testou como deveria.

Com essa realidade, ainda mais com as diferenças sócio-econômicas que existem neste país, voltar com o futebol não deveria sequer ser cogitado neste momento. Mas os dirigentes brasileiros têm conseguido se superar, numa explosão de insensibilidade e de falta de empatia, para fazer com que seus clubes voltem aos gramados. Com o apoio do governo federal, transparecendo que espera que o futebol sirva como um entorpecimento para a sociedade. Mais uma irresponsabilidade.

Falar em protocolos de seguranças quando o novo ministro da Saúde, no discurso de posse, afirmou que ainda estão conhecendo o vírus parece risível. Defender a testagem em massa para os jogadores, comissões técnicas e demais envolvidos em jogos de futebol quando faltam testes para salvar a vida de milhares de brasileiros soa uma agressão a inteligência dos cidadãos. Obrigar com que profissionais se exponham ao risco, em muitos casos contra a vontade deles, como o próprio presidente da República informou ao revelar sua conversa com o técnico Renato Gaúcho, soa como crueldade (não venha dizer que os jogadores ganham milhões, pois eles são minoria da minoria e, principalmente, arriscar uma vida, seja ela uma que ganha salário mínimo ou milhões tem a mesma gravidade). E os que temerem pelas suas vidas, que peçam demissão, como falou de forma chocante o presidente do Internacional, Marcelo Medeiros, à Rádio Gauíba...

É um fato que o isolamento social (respeitado de forma muito mais severa nos cinco países citados no começo do texto do que no Brasil) trará uma crise para o país e também para o futebol. Mas voltar com o futebol da forma açodada como está sendo feito por aqui denota uma crise moral. E não há remédio para uma crise moral.

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