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Como renascem as estrelas, Cruzeiro

O Cruzeiro não passou da primeira fase no MG-20.

E isso choca zero. Porque ainda abaixo de zero e de nota está o clube.

Por Mauro Beting

Melhor tentar ouvir estrelas. Ou pensar em quem ao menos imagina a origem não do problema. Mas da própria solução entre soluços.

Texto Baseado e inspirado em "Como Nasceram as Estrelas", de Clarice Lispector.

(Na dúvida, leia Clarice. Na incerteza, leia Clarice. Na escuridão, leia Clarice.

E quando você parecer dirigente do Cruzeiro nos últimos anos, leia qualquer coisa.

Quando você parecer aqueles caras que pareciam atletas do Cruzeiro no BR-19, leia qualquer coisa).

COMO NASCERAM AS ESTRELAS

Pois é, todo mundo pensa que sempre houve no mundo estrelas pisca-pisca. Niginho, Tostão, Dirceu Lopes, Raul, Piazza, Natal, Zé Carlos, Palhinha, Nelinho, Perfumo, Joãozinho, Jairzinho, Marcelo Ramos, Alex, Gomes, Fábio, Everton Ribeiro, Ricardo Goulart, Dedé.

Mas é erro. É Wagner Pires de Sá. É Itair Machado. Mais alguns nomes próprios impróprios de apropriação indébita da história e glória celeste.

Antes os índios olhavam de noite para o céu escuro — e bem escuro estava esse céu, parecia os próximos dias do Cruzeiro em 2020.

Um negror.

Vou contar a história singela do nascimento das estrelas.

Era uma vez, no mês de janeiro, muitos índios. E ativos: caçavam, pescavam, guerreavam. Mas nas tabas não faziam coisa alguma: deitavam-se nas redes e dormiam roncando. E a comida? Só as mulheres cuidavam do preparo dela para terem todos o que comer.

Uma vez elas notaram que faltava milho no cesto para moer. Que fizeram as valentes mulheres? O seguinte: sem medo enfurnaram-se nas matas, sob um gostoso sol amarelo. As árvores rebrilhavam verdes e embaixo delas havia sombra e água fresca. Quando saíam de debaixo das copas encontravam o calor,

bebiam no reino das águas dos riachos buliçosos. Mas sempre procurando milho porque a fome era daquelas que as faziam comer folhas de árvores. Mas só encontravam espigazinhas murchas e sem graça.

— Vamos voltar e trazer conosco uns curumins. (Assim chamavam os índios as crianças.)

Curumim dá sorte.

Curumim dá sangue. Dá força. Dá luz. Dá prazer. Dá gosto de vestir o manto e se investir pela tradição. Dá orgulho de reconstruir a nossa história e nossa vida.

E deu mesmo. Os garotos pareciam adivinhar as coisas: foram retinho em frente e numa clareira da floresta — eis um milharal viçoso crescendo alto. As índias maravilhadas disseram: toca a colher tanta espiga.

Mas os gatinhos também colheram muitas e fugiram das mães voltando à taba e pedindo à avó que lhes fizesse um bolo de milho. A avó assim fez e os curumins se encheram de bolo que logo se acabou. Só então tiveram medo das mães que reclamariam por eles comerem tanto. Podiam esconder numa caverna a avó e o papagaio porque os dois contariam tudo. Mas — e se as mães dessem falta da avó e do papagaio tagarela? Aí então chamaram os colibris para que amarrassem um cipó no topo do céu. Quando as índias voltaram ficaram assustadas vendo os filhos subindo pelo ar. Resolveram, essas mães nervosas, subir atrás dos meninos e cortar o cipó embaixo deles.

Aconteceu uma coisa que só acontece quando a gente acredita: as mães caíram no chão, transformando-se em onças. Quanto aos curumins, como já não podiam voltar para a terra, ficaram no céu até hoje, transformados em gordas estrelas brilhantes.

Mas, quanto a mim, tenho a lhes dizer que as estrelas são mais do que curumins. Estrelas são os olhos de Deus vigiando para que corra tudo bem. Para sempre. E, como se sabe, “sempre” não acaba nunca.

Assim a Clarice contou as estrelas.

Contou o nascimento do Cruzeiro que resplandece na noite escura que começou em 2019. E não sei se termina em 2020. De tantos cipós e onças que devastaram a fé.

Mas é nos curumins que o Cruzeiro precisa se fiar no firmamento.

É na base estelar.

É lá no céu.

Porque o inferno ainda é aqui pra baixo. E ainda crepita com esses crápulas na cripta ainda aberta.

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