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Um dos melhores jogos da nossa vida é a liberdade de poder jogar e fazer escolhas. Mesmo erradas. Ou que deem errado

Doutor Sócrates pedindo democracia, e não voto, em 1982
Doutor Sócrates pedindo democracia, e não voto, em 1982

Por Mauro Beting

"Votar" pra mim era tomar sorvete lá na Whisky, na praça Marechal Deodoro, centro paulistano. Meu pai votava ali na Alameda Barros. Depois a gente ia tomar sorvete. Era a "festa da democracia". Mesmo não sendo nem sempre festa. Muito menos uma real democracia ainda sob a ditadura militar.

Em 1974 eu lembro da campanha para senador. Mas não fui votar com meu pai. Em 1978 eu fui. E nós fomos para a Whisky. Em 1982 a mesma história. E ele fazendo parte dela, como mediador do primeiro debate para governadores paulistas, na TV Bandeirantes. Quando aconteceu o que ele repetiria em 1986, quando já estava na Rede Globo: ele foi "eleito" o melhor do debate. Com direito a charge no PASQUIM.

Que honra e alegria do meu Babbo.

Que alegria ir com ele votar antes que eu pudesse pela primeira vez, em 1985. Também para prefeito. Já não fomos na Whisky, embora ele estivesse o dia inteiro na Praça Marechal Deodoro, ancorando a cobertura da Globo, do lado da sorveteria.

Mas o sabor ainda era doce. Tinha democracia. Faltava eleger presidente, como seria em 1989. E eu então cobrindo a eleição como repórter de política da FOLHA DA TARDE e produtor da Bandeirantes. Sem tempo para almoçar. Imagine para tomar sorvete na Whisky.

São Paulo hoje tem mais e melhores opções de sorveterias. Como tem mais opções de prefeitos. Não vou dizer em quem votei (agora). Não faço proselitismo nem eleitoral e nem partidário. Mas escolho o meu sabor na sorveteria. E o meu candidato. Depois da eleição eu digo (ainda vivemos o segundo turno). Embora seja fácil imaginar em quem não votaria. Só nesta urna e ruína eleitoral tem três que nem por decreto. Nem sob tortura que alguns deles não condenam. Ou são coniventes com quem defende.

Mas isso é como se eu chegasse antigamente na Whisky ou agora no Stuppendo ou no Davvero, pedisse meu sorvete de café, apertasse verde e confirmasse, e esperasse a pessoa que viesse depois e a proibisse de pedir o sabor dela. A ameaçasse e amaldiçoasse por isso. Tentasse convencê-la a pedir o meu sabor sem que ela pedisse minha opinião. A catequizasse a respeito da minha escolha. Falasse mal dela para as outras pessoas na fila por ela ter pedido outro sabor diferente do meu. Dissesse que ela é “fascista” por pedir limão siciliano ou “comunista” por querer morango. Dizer que ela é “racista” por querer fior di latte ou “lacradora” por querer frutas do bosque.

Vote.

E depois tome sorvete com os cuidados necessários. Mas tome tanto cuidado também para respeitar os outros sabores da vida das outras pessoas.

Sabor de sorvete é como pizza. Ninguém é melhor por preferir mussarela à portuguesa (embora eu... Deixa me segurar). É como preferir Messi a CR7. Flamengo a Vasco. Guardiola a Mourinho. Jogo mais vertical ao maior toque de bola. Sair pela esquerda do ataque ou pela direita. Pontos corridos a mata-mata. Mão na bola ou bola na mão.

São interpretações, visões, gostos, desgostos, educações, sentimentos, pertencimentos, histórias, geografias, cores, afinidades, impressões, sabores distintos. Quase todos plenamente justificáveis. Defensáveis. Compreensíveis.

Mais do que tudo: respeitáveis.

Faça o que quiser com seu voto. Mas vote.

Como a Democracia Corintiana em 1982 na camisa do Doutor Honoris Corinthians Sócrates pedia por democracia. Não por um partido, candidato. Não era proselitismo partidário ou eleitoral. Era apenas tomar partido para que todos os partidos pudessem jogar. Voltar a campo como haviam sido suspensos logo depois do Golpe de 1964.

É o que esteve em jogo neste dia 15. E em qualquer jogo que precisa ter bola. Precisa ter voto. Precisa da gente.

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