Do espelho do próprio passado, Rashford briga pelo futuro
A estrela do Manchester United cobra do governo britânico auxílio a crianças em situação de pobreza
Por Fred Caldeira
Mesmo sendo inglês, Marcus Rashford teve uma infância similar à de tantos brasileiros. Nascido na dura Wythenshawe, área da região metropolitana de Manchester, Rashford é um dos cinco filhos de Melanie, mãe solteira que dependia do auxílio do governo britânico para sustentar a família. “O sistema não é feito para que pessoas como eu tenham sucesso”, escreveu nesta segunda-feira (15) a estrela do Manchester United e da seleção da Inglaterra em carta aberta aos parlamentares do Reino Unido.
O pedido de Rashford é para que o governo mantenha as refeições gratuitas nas escolas do país mesmo durante as férias. Nove a cada 30 alunos no Reino Unido estão em situação de pobreza, e o número torna-se ainda mais alarmante no recorte de crianças negras ou de minorias étnicas: 45% ocupam a faixa de pobreza. Atualmente, 1.3 milhão de crianças dependem do programa de refeições escolares – assim como o próprio Rashford pouco mais de uma década atrás. “Seria injusto com a minha comunidade não usar a minha plataforma hoje para pedir ajuda”, segue a carta do jovem adulto de 22 anos.
O primeiro-ministro Boris Johnson já anunciou que não atenderá o pedido de Rashford, mas a batalha ganhou corpo político. O líder do partido trabalhista Sir Keir Starmer respondeu que a oposição entrará com um recurso para que o governo reverta a decisão. Hoje, o jornal inglês The Times publicou mais um posicionamento público de Rashford, que assina com o título “acabar com a pobreza infantil é maior que qualquer troféu no futebol”. No artigo, o atacante compara a carta de ontem com o gol marcado contra o PSG na última Liga dos Campeões: dois momentos importantes, mas que nada valem sem o título.
Atualização: minutos após a publicação, o governo britânico anunciou que atenderá o pedido de Rashford e irá manter as refeições escolares gratuitas mesmo após o fim do ano letivo.
Debe activar el uso de Cookies Sociales para ver el contenido.
Durante a crise causada pelo COVID-19, Rashford já havia alcançado a marca de 20 milhões de libras em doações junto à instituição de caridade FareShare, que combate a fome no Reino Unido. Agora, o jogador parece ter entendido que filantropia é enxugar gelo, enquanto cobrar mudanças estruturais pode realmente ter um impacto profundo e duradouro. Os aplausos a Rashford já vão muito além de Old Trafford e Wembley.