Parem de perseguir a saída de bola do Fernando Diniz
Cada vez que o São Paulo erra uma saída, Fernando Diniz é alvo de críticas e memes. Já foi chamado de teimoso, cabeça dura, etc. Mas ele faz o que o mundo inteiro vem fazendo - há muito tempo
Por Bruno Formiga
Sair tocando com os zagueiros, laterais e até com o goleiro é uma tendência no futebol. O mundo inteiro faz isso. E não é de hoje. A regra é ficar com a bola. Ou seja: chutão é exceção. Jogar para o aleatório é último caso - e com muito mais chances de dar errado.
Sim. A famosa "quebrada" do goleiro não é nada segura para quem quer ter a bola nos pés. Com os zagueiros adversários de frente e normalmente bem mais fortes, a possibilidade dessa posse ser jogada fora é enorme. Resumindo: sair jogando assim é fora de uso e pouco útil.
Fernando Diniz prioriza a saída de bola curta, usando os zagueiros, a descida dos homens de meio e os laterais. O goleiro também faz parte desse processo. É um ponto de desafogo e de apoio. Mas cada vez que o São Paulo erra, toma um susto ou gera uma oportunidade de gol para o oponente o mundo cai sobre o treinador.
É como se ele, sozinho, inventasse uma forma de construir sua saída de bola e escolhesse viver perigosamente por pura emoção.
Desculpa. Isso é uma visão torta e simplista.
Diniz faz o que Guardiola massificou há 12 anos. E que o mundo inteiro usa e aprimorou. Com diferenças aqui e ali, o padrão é sair tocando, buscando espaços e superioridade numérica sempre. Controle das ações e construição ofensiva consciente.
E se eu quero ter controle e consciância na hora de atacar o básico é começar com a bola nos pés. Jogá-la para o alto na busca de uma dividida de cabeça ou apostando na força de um atacante é contar com menor probabilidades. E com menos chances de sucesso.
Pedir para que os jogadores do São Paulo se livrem da bola toda vez que apertados de alguma forma também é desconhecer o processo de treino. Qualquer técnico que preste tem modelo de jogo e premissas básicas de repetição de movimentos e ações. Isso é diário.
Ou seja. Os jogadores vão criando memória tática, memória corporal. Os gestos vão sendo automatizados. Essa é a busca de qualquer trabalho. Tornar o time um engrenagem com mecanismos. Logo, não dá para deixar solto que cada atleta tome uma decisão diferente a cada saída de bola.
O treinamento, o modelo, a repetição pedem um padrão, uma lógica. Uma busca pelo passe próximo, pela saída curta e consciente. É assim que é. E é assim que deve ser. Mesmo que se erre algumas vezes.
Times precisam acreditar em alguma coisa. Precisam saber o que buscar e como buscar.
Fernando Diniz não comete pecado algum em querer que o seu time, como a esmagadora maiora (ainda mais os times grandes), tenha o controle da própria saída de bola.
Você pode não gostar do técnico do São Paulo. Pode apontar problemas no seu trabalho e na sua evolução. Pode criticar Diniz por tudo.
Menos por isso.