Por que o futebol parece viver num mundo paralelo?
Dirigentes discutem volta dos estaduais mesmo com testes pouco confiáveis e jogadores com medo
Por Taynah Espinoza
Pensar em testar jogadores sem sintomas do Coronavírus enquanto o país enterra corpos sem nem conseguir ter a certeza se o motivo da morte foi a Covid19 ou não é um afastamento da realidade assustador. O futebol brasileiro não deveria cogitar essa possibilidade. Mas cogita. E tem certeza que está fazendo tudo com a maior segurança do planeta.
Provavelmente, os estaduais não voltarão todos ao mesmo tempo no Brasil, afinal os estados vivem realidades bem distintas sobre a pandemia. Isso já tinha sido dito aqui mesmo no blog pelo presidente da Federação Gaúcha de Futebol e faz total sentido. O problema é que, mesmo nos lugares em que os casos parecem estar mais controlados, não há teste pra população.
E aí fica a pergunta: um cidadão comum com sintomas da doença não ter o direito de fazer o teste porque os governos não conseguem comprar a demanda necessária e um jogador de futebol ter a chance de fazer esse teste, mesmo sem sintomas, é justo? E mais: qual a verdadeira qualidade destes testes que os clubes estão encomendando pra seguir o tal protocolo que dizem ser de tanta segurança? Quem questiona isso não sou eu, mas o médico David Uip, um dos principais nomes do governo de São Paulo durante a pandemia, que garante que que estes testes não têm grau de confiança alto.
Ele não é o único inseguro com essa possibilidade. Os jogadores também acreditam que este não é o momento do futebol voltar, também estão com medo. Isso foi confirmado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, num papo que teve com Renato Portaluppi: “A decisão de voltar o futebol não é minha, do presidente da República, mas nós podemos colaborar. Desde lá de trás, quando conversei com o Renato, eu falei: ‘Por mim, volta’. Ele falou: ‘Há um sentimento entre os jogadores de que não pode voltar agora’”, afirmou o presidente em entrevista a Rádio Guaíba hoje.
É óbvio que a questão econômica é importante e que muitos clubes devem sofrer danos enormes por conta dessa paralisação. Mas é assim no mundo. E, no mundo, as pessoas buscam outras alternativas pra tentar não colocar em risco a vida. Isso passa por diminuição de salário, por corte em serviços não essenciais, tudo que as instituições já estão fazendo.
O futebol precisa entender que, assim como o mundo está sentindo os efeitos dessa pandemia no bolso, ele também vai sentir. E assim como o mundo precisa se reinventar, ele também precisa. O futebol está inserido na sociedade, mas toda hora ele acha que vive num mundo paralelo.
- Blog da Taynah Espinoza
- Coronavírus
- covid19
- estaduais
- futebol
- pandemia