Imagem ilustrativa na TNT Sports

É agora que a história é escrita! Assista a TODOS os jogos do mata-mata da Champions League AO VIVO!

ASSINE JÁ
Futebol Brasileiro

De panfleteiro a jogador de Série A: conheça a história de Allyson, zagueiro do Cuiabá

Defensor de 33 anos chegou ao Cuiabá em 2023 após quase oito anos fora do Brasil e concedeu entrevista exclusiva para a TNT Sports

Allyson em ação com a camisa do Cuiabá
Allyson em ação com a camisa do Cuiabá (Gil Gomes Foto)

Por Gabriel Bertoli

Jogando na elite do futebol brasileiro pela primeira vez na carreira, Allyson iniciou sua carreira no mundo do futebol de maneira tardia, aos 22 anos começou sua passagem no futebol profissional, quando assinou com o Nacional. Antes de atuar como zagueiro profissional, Allyson trabalhou como estoquista em uma metalúrgica, assistente geral em uma loja de material de contrução, vendedor de pipa, chapeiro e até panfleteiro, por 10 reais. O jogador concedeu entrevista exclusiva para a TNT Sports.

Quando criança, Allyson viu seus pais se separarem, algo que levou a ter diversos problemas pessoais. Por opção, ele decidiu morar com seu pai.

CLIQUE AQUI E ENTRE NO GRUPO DA TNT SPORTS NO WHATSAPP!

Desde pequeno eu sempre tive o sonho de ser jogador de futebol, mas eu tive muitos problemas familiares. A minha mãe e meu pai se divorciaram bem cedo e, assim como em toda família, quando tem essa quebra, a gente acabou passando por bastante dificuldade. Eu decidi ficar com o meu pai. Minha mãe decidiu morar com um rapaz que eu não me identificava, não gostava dele. Fiquei com o meu pai e ele tentava sustentar a casa da forma como ele conseguia.”

Já adolescente, Allyson tomou a decisão de começar a trabalhar, para ajudar financeiramente em casa. “Lá para os meus 15, 16 anos, eu comecei a trabalhar panfletando para umas pizzarias. Todo final de semana eu ganhava um brotinho e 10 reais como recompensa. Eu fiquei nessa vida um pouco para tentar ajudar meu pai de uma forma ou de outra. E também para conseguir algo para a gente comprar, para eu e meu irmão comermos”, comentou o jogador.

Mais tarde, Allyson trabalhou como vendedor de pipa e chapeiro na loja de um amigo.

"Com 17 para 18 anos, um amigo decidiu montar uma loja de pipa. Ele fez essa loja e eu ajudava ele na loja, vendendo pipas e a loja arrebentou. Começou a vender bastante e com um ano de loja rolando, juntava a molecada tudo, com caixa de som, brincando, dando risada e daí veio uma ideia na minha cabeça. Eu falei pro cara: ‘Mano, e se a gente estendesse isso aqui para uma coisa a mais, tipo um açaí ou uma lanchonete?’. E o cara gostou da ideia. Passaram uns dois meses, a gente fez assim: de manhã, das 10h até às 17h era lojinha de pipa, das 18h até 22h30, 23h, era uma lanchonete. Foi onde eu comecei a ganhar mais dinheiro. E nesse período eu sempre fui jogando na várzea. Cheguei até a disputar um Campeonato Paulista pelo União de Suzano, só que nunca deu certo. Sempre que acabava o contrato, parava de jogar e não conseguia me estabilizar em lugar nenhum.”

Depois de se destacar na loja de seu amigo, Allyson foi indicado para trabalhar em uma metalúrgica, onde ficou por dois anos. Nessa época, foi quando o jogador conseguiu seus dois registros na CLT, como ajudante geral de uma casa de construção e estoquista da metalúrgica.

Um conhecido de Allyson, que trabalhava como médico e morava na sua rua, comentou sobre um teste que aconteceria no Nacional da Barra Funda, time onde o médico trabalhava.

Cheguei lá, mó peneirão, muito, muito, muito moleque. E eu jogava de atacante, né? E peneira é muito moleque. Eu pensei: ‘Não vou ficar aqui não, mano. Vou embora mano!É muito moleque…’ Mas eles começaram a chamar as posições e eu fiquei olhando. Daí chamaram os atacantes e foi uma galera. Chamaram os volantes e foi baixando. Lateral e iam outros. Chegou no zagueiro, tinha um. Zagueiro pela esquerda não tinha nenhum e eu levantei a mão. Eu falei: ‘Vou lá, o cara vai ver que eu pelo menos desenrolo e vamos ver no que vai dar!’”, relembrou o jogador.

A peneira se iniciou e o atacante Allyson, que estava fazendo seu teste como zagueiro, começou a se destacar. O treinador da equipe principal do Nacional estava observando o treinamento e chamou o jogador para conversar.

“Ele me perguntou: ‘Você é canhoto?’ e eu disse que não. Então ele me questionou: ‘Você também não é zagueiro, né?’ e eu respondi que também não era zagueiro. Foi aí que ele me disse o seguinte: ‘Vamos fazer assim: o time que eu treino, o time profissional, tá treinando ali do lado. Queria você para fazer um treino com os cara, mas na sua posição’ e eu aceitei.”

O atacante destro que estava disputando uma peneira como zagueiro pela esquerda foi treinar com o time principal a pedido do próprio técnico do profissional.

Allyson em ação com a camisa do Cuiabá | Gil Gomes Foto
Allyson em ação com a camisa do Cuiabá | Gil Gomes Foto

No entanto, durante o primeiro treinamento, o atacante Allyson ouviu as palavras que mudariam sua carreira no esporte.

“Eu vou te falar uma coisa e você confia em mim. Por incrível que pareça, você não é zagueiro. Você é atacante. Só que eu acho que você vai ganhar dinheiro jogando como zagueiro. Vamos fazer um teste. Você vai ficar um tempo aqui comigo e a gente vai te ajudar. Você vai treinar como volante e zagueiro para não sair direto do ataque para a defesa.”

Dois meses depois, Allyson assinou seu primeiro contrato profissional como zagueiro do Nacional. O primeiro vínculo profissional veio em 2012, quando o defensor nascido em 1990, completaria 22 anos.

Após estrear pelo Nacional, Allyson foi emprestado ao Grêmio Barueri e Independente de Limeira, local onde conheceu sua atual esposa, e ganhou rodagem no futebol brasileiro.

Em 2015, o zagueiro recebeu uma proposta para atuar no Maccabi Petah Tikva, de Israel. O jogador aceitou a proposta, assinou vínculo e iniciou sua trajetória atuando fora do país.

Em sete anos atuando em Israel, além de ter passado quase dois anos na Turquia, Allyson retornou ao Brasil dominando o inglês, espanhol, turco e hebraico, além de ter se dedicado para aprender as culturas do país, algo que para ele é uma questão de respeito.

Eu queria aprender o inglês primeiro porque é a base de tudo e depois você aprendeu o hebraico. No final da minha passagem em Israel, eu traduzia para os brasileiros que iam para lá e às vezes até para outros estrangeiros, em inglês. Eles te respeitam quando você chega e você fala a língua deles, você se interessa pela cultura deles, eles te respeitam. Eu acredito que isso seja em qualquer país do mundo. Por exemplo, quando eu fui para Turquia, onde fiquei por um ano e meio, quase dois anos, eu já estava falando turco. Eu já sabia me comunicar, pedir comida, dentro de campo eu sabia falar todas as posição e contar de um até 100 em turco. Então todo lugar que eu ia eu fazia isso os caras me respeitavam, entendeu?”

“Eu já presenciei vários jogadores chegarem lá não estarem nem aí porque os caras trazem um tradutor. Você tem um tradutor que vai traduzir para você e os caras ficam acomodados com a tradução. E às vezes treinador local, ele não quer ficar repetindo repetindo para o tradutor traduzir para você, entendeu? Ele quer falar e deixar o negócio rolar. Isso daí às vezes prejudica. Querendo ou não prejudica”, completou Allyson.

Foi também na Europa, que Allyson começou a participar e colaborar com o projeto Força Jovem Universal, da Igreja Universal, auxiliando na área do esporte, com palestras e suporte financeiro.

São palestras que a gente vai nas escolas para falar a respeito das doenças do século, como a depressão e a síndrome do pânico. Às vezes, as pessoas acham que não existe isso, mas hoje a maioria dos jovens e adolescentes sofrem com isso e eles nem sabem. E eu, por ser uma pessoa que passei por isso, por conta do abandono da minha mãe, isso me causou muitos danos. Eu tinha muito ódio e raiva que me fizeram perder muitas oportunidades, inclusive no meio do futebol. Já aconteceu de eu chegar e brigar com um amigo dentro de campo e ser mandado embora. Então eu procuro passar essa experiência para esses alunos que muitas vezes se identificam com a minha história e que sofrem casos de abandono, rejeição e às vezes até abuso.”

“Por eu ser jogador de futebol, eu uso isso como ferramenta para atrair jovens. E a função desse projeto é tirar o foco dos jovens das coisas ruins e fáceis do mundo, como a prostituição, a criminalidade, a droga etc. Todo final de semana, a gente tem atividades que a gente convida os jovens para estarem presentes. Eu sou responsável pelo café da manhã e pelo almoço. Eu doo esse valor todo final de semana para que eles possam ficar o domingo todo com a gente.”

O zagueiro de 33 anos não escondeu que voltar a atuar no futebol brasileiro era seu sonho. Apesar de conseguir mais dinheiro e saúde financeira jogando no exterior, o defensor ressaltou a saudade da família, pais, filhos e amigos ao passar muito tempo fora do Brasil.

Eu acredito que todo jogador de futebol, quando ele sai do seu país natal, ele tem o sonho de retornar. Por mais que lá fora você ganhe dinheiro, que você conquiste, é difícil você ficar longe da sua família, da sua mãe, do seu pai. Você fica longe e sente saudade.”

Contratado no meio da temporada de 2023, a pedido de Cristiano Dresch, presidente do Cuiabá, Allyson já soma 22 partidas pelo Cuiabá, com um gol marcado. Esta é a primeira vez que o zagueiro disputa competições nacionais por um time da elite do futebol brasileiro. O defensor falou sobre as partidas que marcaram sua volta ao Brasil.

"E eu acho que foram três jogos bem marcantes para mim. O primeiro, que foi logo na minha estreia no Brasileirão, que a gente jogou contra o Palmeiras, no Allianz Parque. Quando a gente perfilou para cantar o hino nacional, eu olhei assim e falei: ‘Caraca, mano! Eu tô jogando a Série A do Brasileirão!’. Contra o Corinthians, na Neo Química Arena, foi um jogo bem emocionante também, porque a atmosfera de um jogo à noite, com o estádio todo apagado e as luzes do celular, além das torcidas dos caras, que é top. E eu pude ter a experiência maravilhosa de poder jogar no teatro do futebol, no Maracanã. Era a despedida do Filipe Luís e do Rodrigo Caio, então o estádio estava lotado.”

Mais Vistas