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Futebol Brasileiro

Sobrevivendo FC: as torcidas e suas lutas diárias

Inadimplência, máscaras como carro chefe e ações sociais: entenda como a força das arquibancadas dos principais clubes do Brasil buscam energia para tentar sobreviver à pandemia

Sobrevivendo FC: as torcidas e suas lutas diárias
Sobrevivendo FC: as torcidas e suas lutas diárias

Por Bruno Coutinho e Bruno Formiga

Sem futebol, sem alegria. Mas com muitas contas a pagar. A crise gerada pela pandemia e pelo período sem bola rolando não afeta apenas os clubes, mas também suas torcidas. A força que tanto empurra as equipes nas partidas, hoje busca utilizar todo esse ímpeto para vencer um novo adversário: o Covid-19.

O Esporte Interativo conversou com algumas das principais torcidas do futebol brasileiro para entender como e o que elas estão fazendo para tentar superar os problemas causados pelo novo coronavírus.

Como as torcidas estão sobrevivendo neste período de pandemia e sem futebol? | Foto: Reprodução
Como as torcidas estão sobrevivendo neste período de pandemia e sem futebol? | Foto: Reprodução

Na rua Doutor Pedro Augusto Menna Barreto Monclaro, número 571, em Curitiba, no Paraná, encontra-se a sede de uma das torcidas mais apaixonadas do Brasil: a Os Fanáticos (TOF). Com sua força, que levou o Athletico a grandes títulos, como os recentes da Sul-Americana 2018 e a Copa do Brasil 2019, os rubro-negros da TOF tentam, agora, transformar toda essa energia das arquibancadas em formas de driblar a crise causada pela pandemia da Covid-19.

Torcida Os Fanáticos apoiando o Athletico | Foto: Divulgação / @osfanaticos_oficial
Torcida Os Fanáticos apoiando o Athletico | Foto: Divulgação / @osfanaticos_oficial

O vice-presidente da TOF, Luciano Castilho, mais conhecido como 'Sapo', revela que a crise causou muita inadimplência no quadro de sócios da torcida. Para tentar conter a situação, promoções e serviços de entrega de produtos foram as alternativas encontradas. E mesmo com todo o momento adverso, o VP da Os Fanáticos celebra a oportunidade de ajudar o próximo.

Fizemos bastante promoção (...) Mesmo complicado, conseguimos fazer algumas ações sociais

"Muita coisa que estava parada a gente fez bastante promoção para girar. A gente fazia vendas on-line, venda por WhatsApp, com motoboy entregando. Na entrega, a gente pede um quilo de alimento para ajudar, porque estamos em parceria com a Cufa (Central Única das Favelas), e arrecadamos alimentos para eles. E arrecadando aqui também, passa muita gente aqui. Temos umas cestas aqui e estamos doando. Fora os trabalhos que fizemos, com máscaras e doando nos comércios, por exemplo."

Integrantes da Os Fanáticos realizando ações sociais | Foto: Divulgação / @osfanaticos_oficial
Integrantes da Os Fanáticos realizando ações sociais | Foto: Divulgação / @osfanaticos_oficial

Além das máscaras doadas, outras também são comercializadas. Sapo revela que o intuito não era vendê-las, mas diante da situação foi necessário. O produto é o carro chefe e o que está salvando as contas. A sede da torcida fica próxima ao estádio, e a principal receita vinha de dias de jogos na Arena. Sem partidas, o número nas vendas dos produtos reduziu drasticamente.

Máscaras vendidas pela Os Fanáticos e loja com produtos da marca | Foto: Divulgação / @osfanaticos_oficial
Máscaras vendidas pela Os Fanáticos e loja com produtos da marca | Foto: Divulgação / @osfanaticos_oficial

O VP da TOF garante que as contas não estão atrasadas, mas caso seja necessário prorrogar os prazos, o bom relacionamento com os fornecedores ajudará. Já em relação aos funcionários, foi feito um acordo para reduzir os salários, aceito por todos.

Redução essa para manter a saúde financeira da torcida. Enquanto a situação não passa, a Os Fanáticos busca soluções para tentar conter a crise. O vice-presidente afirma que a TOF está lançando novos produtos para os sócios e torcedores. E a expectativa é a de que tudo isso passe logo.

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Torcida do Fortaleza do estádio | Foto: Divulgação / @gresleoesdatuf
Torcida do Fortaleza do estádio | Foto: Divulgação / @gresleoesdatuf

Pouco mais de 3 mil quilômetros de distância de Curitiba, subindo o mapa do Brasil, chegamos a Fortaleza, cidade do Leão do Pici e dos Leões Da TUF. Muda torcida e estado, mas não muda muito a situação.

Klawber Bonfim, Diretor Financeiro da torcida, revela que a notícia do isolamento social, quando decretada pelo Governo do Estado, pegou a todos de surpresa. A TUF tem uma loja na sede, que é a matriz, além de duas franquias e três parceiras (no interior, centro e região metropolitana). Com a pandemia, foi preciso fechá-las.

Graças ao bom planejamento, a TUF estava bem organizada financeiramente, sem dívidas com fornecedores e com uma 'gordura' para sustentar alguns meses de crise. No entanto, o período sem jogos e bola rolando, aliados ao aumento do isolamento, teve consequência direta nas receitas da torcida, que possui custos com a sede alugada, com uma família morando na mesma, e funcionários.

Klawber Bonfim, Diretor Financeiro da Leões da TUF, usando máscaras da torcida | Foto: Divulgação
Klawber Bonfim, Diretor Financeiro da Leões da TUF, usando máscaras da torcida | Foto: Divulgação

Klawber revela que a primeira ação foi de negociar o aluguel, para iniciar uma redução nas despesas da Leões da TUF, que giram em torno de R$ 9 mil por mês.

Primeira coisa que fizemos foi negociar o aluguel

"Hoje, temos a sede, que é alugada. Temos também um galpão, que fica perto do centro de Fortaleza. Só o aluguel é R$ 3.500, com IPTU, mais a despesa de dois funcionários, com salário e ajuda de custo. Temos internet, canal por assinatura, temos uma família que mora na nossa sede, que além do salário a gente dá recursos de alimentação. Ou seja, uma despesa de R$ 8.000 a R$ 9.000 por mês. Felizmente, conseguimos 50% de desconto, junto ao proprietário do imóvel. De R$ 3.500 para R$ 1.750."

Com a incerteza de um retorno às normalidades e do futebol, a Leões da TUF precisou buscar alternativas para conter um pouco da crise causada pela Covid-19. O Diretor Financeiro da torcida, Klawber, revelou que a comercialização de máscaras licenciadas foi um verdadeiro alento para as contas.

Foi o que deu um alento, com a venda das máscaras

"No segundo mês de pandemia, começamos a vender máscara, foi o que deu um alento. Máscara licenciada, confeccionamos e abrimos para atender delivery, na capital e no estado. Hoje, basicamente, a torcida vive das vendas de máscaras. As outras lojas estão fechadas e não pagam os royalties, que é o direito de venda dos produtos da TUF. Tanto a franquia quanto às lojas parceiras, elas pagam à torcida Leões da TUF. E ficamos vendendo as máscaras na loja da sede. Consequentemente, vinha pegar a máscara e quer uma camisa, também vendemos."

Produtos comercializados pela Leões da TUF | Foto: Divulgação
Produtos comercializados pela Leões da TUF | Foto: Divulgação

Com um respiro a mais nas contas, depois das vendas com as máscaras, Klawber garante que o foco sempre foi tentar manter os funcionários, tanto lojistas quanto a família da sede, com um suporte financeiro. Agora, a expectativa é que a situação comece a voltar ao normal. No último dia 8, setores do comércio retornaram com suas atividades, dentro da primeira fase pelo Governador do Estado, no plano de retomada da economia.

Torcida do Cruzeiro fazendo a festa nas arquibancadas | Foto: Divulgação / @mafiaazuloficial
Torcida do Cruzeiro fazendo a festa nas arquibancadas | Foto: Divulgação / @mafiaazuloficial

Do Nordeste para o Sudeste. Do Tricolor para o Azul Celeste. Em Belo Horizonte, Minas Gerais, a Máfia Azul passa pela mesma crise que as outras torcidas. No entanto, como seus planos são anuais, não aconteceram inadimplências. Pelo contrário, um crescimento surpreendeu a todos, como revela Giusepp, Diretor da organizada: "Não tivemos perda. Até uma coisa que espantou a gente foi a procura que a gente teve para novos sócios."

Giusepp afirma que a Máfia está conseguindo se sustentar, apesar de todas as adversidades causadas pela pandemia. Na torcida, a prioridade é pagar contas urgentes e, caso necessário, negociar com as outras pontas, como imobiliárias e o pessoal que trabalha para a torcida, por exemplo. E o pioneirismo da organizada em alguns aspectos é um dos grandes alicerces neste momento.

A Máfia Azul é até pioneira nisso (loja virtual) no Brasil

"Uma coisa que a gente já vem trabalhando, a Máfia Azul é até pioneira nisso no Brasil, nós abrimos a primeira loja virtual em meados dos anos 2000, que começamos a trabalhar com e-commerce. Então, temos um fluxo bem alto de vendas pela internet. E uma tendência, hoje, com essa questão pandemia é o aumento de vendas nas lojas virtuais. Um plano que a gente adotou foi a tele-entrega, o delivery. A pessoa entra em contato pelo WhatsApp, escolhe o produto, e o motoboy entrega, na capital e região metropolitana. Interior e outros estados, a gente continua com o e-commerce. A gente trabalhou também durante essa crise com a confecção de máscaras, para poder conscientizar a galera, estávamos vendendo mais em um preço simbólico que, mesmo assim, faz um fluxo de caixa e ajuda a quitar as contas mais urgentes da torcida."

Máscaras da torcida do Cruzeiro | Foto: Divulgação / @mafiaazuloficial
Máscaras da torcida do Cruzeiro | Foto: Divulgação / @mafiaazuloficial

Pioneirismo até parece algo comum para a Máfia Azul. Como revela Giusepp, a organizada foi a primeira do Brasil a criar um canal de TV. Meio este, aliado às redes sociais, utilizado para divulgar as ações sociais realizadas pela torcida. Em conjunto com outras organizadas do Cruzeiro, foi criado o Conselho Azul que, com a presença de jogadores, inclusive, ajuda os que mais precisam em diferentes comunidades carentes.

Nós fizemos a entrega de 50 toneladas de alimentos em diversas comunidades carentes

"Nós fizemos uma campanha em conjunto com as demais organizadas do Cruzeiro, por meio do Conselho Azul, que é o Conselho de Torcidas Organizadas do Cruzeiro, e nós fizemos a entrega de 50 toneladas de alimentos em diversas comunidades carentes, contando com a presença de jogadores. Foi uma ação que envolvemos os dirigentes do clube, jogadores, influenciadores digitais, muita gente ligada ao Cruzeiro. Uma coisa bem bacana que fizemos com a torcida e fomos alastrando para as filiais no interior e para os comandos off-Minas, que são os comandos que temos em outros estados."

Léo, zagueiro do Cruzeiro, (de blusa preta, na foto da esquerda) foi um dos atletas presentes nas ações sociais | Foto: Divulgação / @mafiaazuloficial
Léo, zagueiro do Cruzeiro, (de blusa preta, na foto da esquerda) foi um dos atletas presentes nas ações sociais | Foto: Divulgação / @mafiaazuloficial

Além das ações sociais, Giusepp revela também que as lideranças da Máfia Azul têm realizados reuniões através de aplicativos e até lives para contar um pouco mais da história da torcida, principalmente para os novos torcedores: "A galera que está agora precisa entender o fundamento do que é a torcida, porque quem está de fora acha que é ir para o estádio, viajar, cantar e pronto. Mas tem muita coisa envolvida. Tem o dia a dia da galera que trabalha 24h para chegar com tudo no estádio, com a festa pronta. Então, é muita coisa por trás."

No último dia 5 de junho, a Máfia Azul completou 43 anos. No entanto, devido à crise, não foi possível realizar uma comemoração. Giusepp afirmou que a diretoria realizou conversas para explicar e conscientizar a todos e da situação. Afinal, evitando contato no momento, a torcida entende que também estará ajudando para que a pandemia acabe logo.

Torcida do Goiás nas arquibancadas apoiando o time | Foto: Divulgação / @forcajovemgoias97
Torcida do Goiás nas arquibancadas apoiando o time | Foto: Divulgação / @forcajovemgoias97

Do azul para o verde esmeraldino. Subindo um pouco no mapa, chegamos até Goiânia, no Centro-Oeste do país, e encontramos a Força Jovem Goiás. A situação da organizada não difere das demais, e a inadimplência causada pela pandemia do Covid-19, aliada ao período sem jogos, afetou a torcida. Mateus Tobias, presidente da FJG, revela que o diálogo foi o caminho para explicar aos sócios a necessidade da união dos torcedores no momento e que manter os planos em dia era essencial.

Com o aumento do isolamento, as lojas foram obrigadas a fechar, com isso as vendas caíram, o que refletiu diretamente na receita da organizada. No entanto, Mateus revela que com um bom planejamento e um marketing eficaz, foi possível recuperar alguns números, inclusive com uma data marcante, que foi o aniversário de 23 anos da torcida.

Foi uma promoção de sucesso

"No começo, as vendas caíram, porque não podíamos nem abrir a loja. Era só no site. Mas quando começou a melhorar, foi possível fazer venda sem contato, além das entregas. Então, pra gente ajudou muito, porque o momento da pandemia foi o momento de aniversário da torcida. Um marketing legal, uma live, interagimos com a galera e lançamos uma camisa muito bonita, de 23 anos da torcida. Nesse momento, as vendas melhoraram. Fizemos uma promoção com a camisa de 23 anos. Um mês em valor único para todos. Foi uma promoção de sucesso, que a gente vendeu muita camisa."

Camisas em comemoração aos 23 anos da torcida Força Jovem Goiás | Foto: Divulgação / @forcajovemgoias97
Camisas em comemoração aos 23 anos da torcida Força Jovem Goiás | Foto: Divulgação / @forcajovemgoias97

Mateus celebra ainda que, como o intuito da Força Jovem era aproximar os associados e mostrar o lado da torcida, o resultado foi bastante satisfatório, principalmente com o sucesso nas vendas das camisas comemorativas aos 23 anos da organizada, o que reflete a união dos torcedores neste momento. E, mesmo com a falta de acordo melhor com o proprietário da loja, que é alugada, a FJG vai conseguindo honrar com seus funcionários, todos mantidos e com salários em dia.

Estamos nos virando para manter todos os salários

"A princípio não teve acordo com o proprietário, que a gente aluga. Ficou meio complicado, no início, ele não quis diminuir nada, a gente está pagando a metade do aluguel, porém quando normalizar, teremos que pagar a outra metade, que vai ficar acumulado. Quanto aos funcionários, estamos conseguindo manter todos. Então, essa questão não estamos tendo problema, estamos nos virando para manter todos os salários.

Exemplo no estado de Goiás quando o assunto é ajudar ao próximo, o presidente da Força Jovem afirma que a torcida já chegou a ser o segundo maior grupo doador de sangue do Hemocentro, além de participar de ações sociais com arrecadação e doação de alimentos, agasalhos e cobertores. De cestas básicas, já foram duas toneladas para famílias carentes da região. Mateus revela que a maioria das ações não são postadas para, além de não expor quem necessita, fazer com que tudo seja de coração. Divulgações somente para prestar contas ou estimular para novas doações.

Presidente da Força Jovem Goiás em ação para ajudar o próximo | Foto: Divulgação / @forcajovemgoias97
Presidente da Força Jovem Goiás em ação para ajudar o próximo | Foto: Divulgação / @forcajovemgoias97

O suporte a quem mais precisa não é de hoje, nem será somente durante a pandemia, como garante Mateus. Agora, além da contribuição ao próximo, o presidente da Força Jovem Goiás revela que outro auxílio que a torcida não vê a hora de dar também é nas arquibancadas, apoiando o Esmeraldino.

"A gente aproveitou esse momento de pandemia para reorganizar muita coisa, de união, dar liberdade de todo associado falar com o presidente, com a diretoria, aproximar mais a todos. E a expectativa é voltar logo. A gente voltando, no primeiro jogo vamos lançar um desafio, o maior bonde da história da Força Jovem, e a gente tem certeza que a gente vai chegar lá."

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